A agricultora Cláudia Carlomagno, de Cornélio Procópio (PR), falou com a reportagem da Revista Agrícola e contou a sua trajetória de sucesso no campo, que começou há apenas quatro anos. Formada em Psicologia, ela encarou o desafio de administrar uma fazenda e procurou fazer de uma forma diferente do que vinha sendo feito.
Desde que começou, enfrentou bastante problemas e teve que reestruturar toda a fazenda, tanto na parte de pessoas quanto de maquinários. Ela confessou que não tinha nenhuma experiência nessa área e a primeira atitude foi buscar alguém que pudesse ensina-la. Um profissional, que inclusive trabalhava na Belagrícola, a ajudou muito. “Ele me pegou pela mão e disse: eu vou te ensinar a trabalhar até o dia em que você conseguir tocar sozinha”, lembra.
Cláudia começou a se inteirar da situação e verificou que na fazenda não havia histórico de nada. “Por isso, um dos principais problemas foi avaliar o que é que funcionava ali dentro”. Ela entrou em contato com professionais de um programa de gestão, e conseguiu ter os dados em suas mãos para que, quando precisasse resolver algum problema, pudesse tomar uma decisão em cima do que realmente funcionava. Para isso, mergulhou naquele mundo. “Fiquei morando um ano e meio dentro da fazenda, acordando e dormindo ali, vivenciando tudo”.
Depois, veio o segundo passo: a formação da equipe. “Quando comecei a entender o que era uma fazenda, o que ela precisava, eu trouxe pessoas para o meu lado sabendo o que poderia pedir para ser realizado e depois cobrar o resultado”. Mesmo antes de ter um entendimento completo do cenário, Cláudia sempre encarou a fazenda como uma empresa. “Ela tinha que funcionar e, no final, me dar lucro. Senão, não tem porquê me desgastar tanto naquilo”.
Primeiramente ela trouxe um administrador que não tinha muita experiência em agricultura, mas bastante em pecuária, e com uma visão muito boa. “Eu disse que não tínhamos experiência nessa área, mas tínhamos vontade”. Depois contratou um profissional para a parte do escritório. Hoje, além dessas duas pessoas, a propriedade conta com uma equipe de trabalhadores da fazenda, que é subordinada ao administrador. “Eu vou resolvendo os problemas mais sérios que surgem. Para isso, consegui delegar para cada um em seu setor”.
Produtividade
Com as pessoas certas nos locais certos, Cláudia e sua equipe começaram a fazer campos experimentais dentro da fazenda antes de corrigir todo o solo. Praticamente toda a estrutura teve que ser repensada e refeita. “Havia muita erosão e não tínhamos os ramais transitáveis. Levantamos as curvas de nível, enfim, fizemos a parte base”.
Ela contou que adquiriu uma propriedade maior, a Água Branca, que tinha um referencial em produtividade. “De repente eu não via esse resultado e percebi que alguma coisa estava errada. Então, trabalhamos para ver o que a terra estava precisando. Começamos a fazer análise e recuperação de solo e campos experimentais”.
Ela ressaltou que seu vizinho plantava uma variedade muito boa de grão e rendia muito bem. “Eu plantei e não funcionou e eu sou vizinha dele. Então, não adianta copiar o que os outros estão fazendo. Eu preciso ver o que funciona no meu solo. Com esses campos experimentais eu pude observar isso e tomar a decisão para a futura safra do que eu iria plantar, o que se adaptou melhor e respondeu mais”.
Reconhecimento
Todo esse trabalho lhe rendeu o prêmio de maior produtividade da região na safra retrasada. “Para mim foi maravilhoso receber essa premiação, pois no início achava que não ia dar conta de administrar o negócio e ter esse resultado assim tão rápido”, relata. “Consegui ver que estou no caminho certo. Tenho muito chão para percorrer ainda, mas não sinto mais que estou sozinha. As pessoas estão envolvidas e realmente encaram a fazenda como uma empresa. Todos estão preocupados com redução de curso e produtividade”, acrescenta. “O medo que tive a princípio de não dar conta, de ser uma mulher neste meio, de sair de Manaus (AM) e voltar para o Paraná, não existe mais. Foi muita mudança, mas o caminho foi de sucesso. É claro que há percalços o tempo todo, mas serviu para mostrar que o caminho é correto e que temos que ir melhorando”, complementa.
Tecnologia
Cláudia entende que as novas tecnologias são uma realidade no campo. “Eu costumo dizer que o agricultor é meio louco: ele pega dinheiro, enterra e fica rezando para que retorne o dinheiro que ele investiu e ainda tenha lucro”, comenta. “Se você não for atrás do que é bom e fizer dentro do que temos de controle – escolher o melhor produto, a melhor tecnologia, aplicar no tempo certo e da forma correta – não teremos sucesso nunca. Existem coisas que não controlamos, como o clima, o preço do grão e um monte de outras coisas”.
“Então, eu acho a tecnologia importantíssima. Ela existe e temos que ir busca-la. Não dá mais para trabalhar como as pessoas comentam que era no passado. Daquela forma funcionava, mas hoje eu vejo que não. Por isso estou sempre atrás de tecnologia e de uma boa assistência”.
A tecnologia vem para ajudar o agricultor no grande desafio de se plantar mais na mesma área. “Já não existe tanta área e, além disso, não é interessante, pois quanto maior a área, mais mão-de-obra e mais equipamentos serão necessários. Se puder fazer dentro da tua área e aumentar a produtividade, para que ter mais gasto? A visão é sempre tentar buscar mais com menos”.
Preconceito
Cláudia diz que não sofreu preconceito por ser mulher e acredita que ele estava em sua cabeça, devido principalmente ao medo de adentrar um novo mundo. “Eu pensava: ‘estou chegando como uma administradora de fazenda sem conhecer o que estou fazendo. Será que as pessoas vão me escutar, vão me respeitar?’. Comecei a ver que, no início, como não tinha conhecimento, não conseguia conversar da mesma forma. Mas nem por isso as pessoas falavam: ‘vou excluir a Cláudia porque ela não conhece nada’”, relata.
Ela deixou o medo de lado e vou atrás de ajuda. “Eu não tenho vergonha de pedir ajuda. E pedi ajuda 200 mil vezes e a mesma ajuda várias vezes. As pessoas foram muito receptivas, me ajudaram muito e vi então que tinha que aumentar meu conhecimento nessa área. Comecei a fazer MBA em Agronegócio para poder ter uma visão geral e isso tem ajudado muito”.
A administradora acredita que o preconceito surge em nós mesmos, quando temos um medo muito grande e achamos que as pessoas não vão nos respeitar. “Eu coordeno essa fazenda e não enfrento dificuldade alguma com funcionários ou colaboradores. A aceitação foi boa. Pode ter sido a minha postura de chegar e dizer que estava ali para realizar um trabalho sério e que ele tinha que funcionar. Então perguntei o que eles tinham para contribuir e garanti que depois iria contribuir com eles”.