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Cooperativas apontam fatores climáticos como principal desafio para o trigo

Superar as adversidades do clima, como seca, geadas e chuva na colheita, é o maior desafio à produção de trigo no Brasil. Essa é a percepção da maioria dos entrevistados em levantamento realizado em 24 cooperativas que movimentam 34% do trigo produzido no País. Em 2017, a produção brasileira de trigo foi de 4,5 milhões toneladas, volume 32% menor em relação ao ano anterior em função de problemas com o clima que afetou os resultados na região Sul.

A pesquisa “Avaliação de cenários para a produção de trigo nas cooperativas brasileiras” foi desenvolvida pela Embrapa Trigo e Embrapa Gestão Territorial, em parceria com a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), e contou com uma série de levantamentos com 25 gestores e 181 técnicos que atuam na dinâmica da triticultura nacional. Participaram 24 cooperativas, distribuídas em sete estados, que prestam assistência técnica a quase 170 mil associados. O objetivo foi compreender os desafios atuais e as inovações desejadas pelo setor cooperativista.

As limitações impostas pelos fatores climáticos ao cultivo do trigo foram apontadas pela maioria dos entrevistados como um importante gargalo do setor. As doenças mais temidas são a giberela (87%) e a brusone (51%), cuja incidência está diretamente relacionada ao clima quente e úmido e para as quais ainda não existe resistência genética e os defensivos não apresentam controle satisfatório. “As adversidades do clima são riscos inerentes à triticultura, causando prejuízos que nem sempre encontram fontes de resistência no melhoramento genético das plantas”, argumenta o chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski.

 

Preocupação com a germinação pré-colheita

Outro problema relacionando ao clima é o risco de germinação pré-colheita, apontado por 86% dos entrevistados. A fase final de maturação do trigo na região Sul, responsável por 90% da produção nacional, muitas vezes atravessa dias com chuvas intensas e altas temperaturas, que podem ocasionar a germinação dos grãos ainda na espiga, diminuindo o potencial de rendimento e a qualidade tecnológica. “Nossa colheita ocorre justamente na primavera, período mais chuvoso do ano. Na Coopavel, contamos com 60 agrônomos monitorando as lavouras durante toda a safra, mas escapar da chuva na colheita não depende apenas da competência técnica, tem sido questão de sorte com clima favorável para o trigo”, argumenta o presidente da Cooperativa Agroindustrial de Cascavel (Coopavel), Dilvo Grolli.

Como os problemas associados ao clima não ocorrem de forma generalizada, implicando danos pontuais em cada região (como seca, geadas, granizos, chuvas, pragas e doenças), o desafio das cooperativas tem sido investir em estruturas de segregação do trigo.

“Nosso grande adversário é o clima”, concorda o presidente da Federação das Cooperativas do Rio Grande do Sul (Fecoagro/RS), Paulo Pires. Segundo ele, apesar de a segregação representar liquidez no trigo, é muito difícil de operacionalizar: “Hoje, no Rio Grande do Sul, estão em cultivo mais de 40 variedades de trigo. Seriam necessários diversos pequenos silos na cooperativa para separar por características comerciais, tornando impossível segregar todo o volume produzido”. Além disso, na avaliação de Pires, a estrutura de armazenagem existente no País está direcionada à cultura da soja. A aposta da Fecoagro é orientar o trigo para a exportação, com volume em escala para demandas do mercado, com alimentação animal ou baixa força de glúten.

Apesar de a totalidade de entrevistados destacar a importância de segregar os grãos para o melhor aproveitamento dos diferentes níveis de qualidade tecnológica (pH, proteína, força de glúten), apenas 12 cooperativas possuem estruturas próprias de moagem, e os demais dependem do serviço de terceiros para logística e armazenagem, dificultando a segregação e a valorização para comercialização.

Na Coopavel, com sede no município paranaense de Cascavel, a instalação do moinho fez a área de trigo dobrar, passando de 50 mil hectares, em 2012, para 110 mil hectares no ano seguinte. “O moinho trouxe segurança para o produtor, tanto em liquidez quanto em preço. O trigo passou de planta de cobertura para cultura importante”, conta o presidente da cooperativa, Dilvo Grolli. Segundo ele, não existem mais áreas de pousio na região de abrangência da cooperativa, na qual o trigo compõe o sistema de produção com rotação de cinco culturas em dois anos: soja-feijão-trigo-soja-milho safrinha.

De acordo com a pesquisa, na abrangência das cooperativas, o trigo está inserido no sistema de produção geralmente em sucessão à soja (48%), milho (23%) e rotação com aveia ou pousio (19%). No entanto, o trabalho também identificou outras nove culturas e uma centena de combinações com trigo.

Potencial para produzir 14 milhões de toneladas

Atualmente, de acordo com informações das cooperativas pesquisadas, o trigo é cultivado somente em 10% da área utilizada no verão, principalmente com soja e milho, resultando na produção de seis milhões de hectares. Na projeção de cenários, se o trigo ocupasse um terço da área cultivada no verão em todos os municípios onde o cereal já está presente no inverno, a produção chegaria a 14 milhões de toneladas, mantidos os rendimentos atuais das lavouras em cada região de produção de trigo. “Com as informações obtidas na pesquisa será possível verificar, regionalmente, quais são as principais dificuldades para atingir o potencial de cultivo de trigo estimado”, afirma o supervisor do Núcleo de Análises Técnicas da Embrapa Gestão Territorial, Rafael Mingoti.

Para Adão Acosta, analista da Embrapa Trigo que coordenou o levantamento, “entender os desafios e limitações das cooperativas é importante para projetar um cenário de aumento de cultivo de trigo no Brasil. Muito além de políticas públicas, precisamos discutir os entraves e oportunidades para sustentar um possível crescimento, fortalecendo o setor cooperativista,” acredita.

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