Um consórcio internacional, formado por 12 entidades públicas e privadas de diversas localidades, entre elas a Embrapa, conseguiu mapear o genoma da ferrugem asiática, um dos grandes pesadelos dos produtores de soja do Brasil.
A reportagem da Revista Agrícola esteve na sede da Embrapa Soja, em Londrina e conversou com o fitopatologista e pesquisador Maurício Meyer, segundo Ele a descoberta é um marco nas pesquisas de compreensão e desenvolvimento de estratégias de controle da ferrugem da soja. Explicou, que o fungo causador da ferrugem da soja tem alta capacidade de mutações, de se adaptar às condições adversas, que as medidas de controle promovem. “Ele rapidamente se adapta às condições de ambiente, por exemplo, a pressão de seleção causada pela aplicação de fungicidas, a pressão de seleção causada pela utilização de uma cultivar resistente. Ele tem uma capacidade muito grande de adaptação e de sobrepor essas medidas de controle.”
Ele frisou, que o fungo é um parasita obrigatório e só sobrevive e se multiplica em plantas vivas. Isso, determina a eficiência das medidas legislativas, principalmente do vazio sanitário a fim de não se ter plantas vivas (hospedeiras), no período de entressafra. Isso, evita que o fungo se mantenha e se multiplique. E que a próxima safra, tenha início já com a presença da doença na região. “O objetivo do vazio sanitário é começar a safra com inóculo zero, com presença zero do fungo na região.”
Genoma
O pesquisador informou que a alta capacidade de adaptação da ferrugem a essas condições, é determinada no seu genoma pelas alterações que ocorrem no seu DNA. “E não conhecíamos a sequência, o mapa genético desse fungo. Vários esforços foram feitos há alguns anos e as primeiras tentativas, não foram bem-sucedidas. Os pesquisadores, principalmente americanos que começaram a fazer esse trabalho, subestimaram o tamanho do genoma. Em média, um genoma de um fungo patogênico em plantas tem um tamanho de 50, 100 mega pares de bases. O que observamos no mapeamento da ferrugem da soja, é que ele tem 1.000, ou seja, um giga de pares de bases. É muito maior do que se esperava. O genoma do fungo da ferrugem, é praticamente do mesmo tamanho do genoma na planta da soja, que é uma espécie muito mais complexa,” descreve. “Essa condição o tamanho desse genoma e o fato de ele ter várias sequências repetitivas dentro dele é o que provavelmente confere essa grande capacidade de adaptação.”
Ele acredita, que a partir de agora conhecendo esse mapeamento genético, é possível que todas as instituições de pesquisa possam programar suas ações tentando entender, conhecer melhor quais são e onde ocorrem dentro do genoma do fungo, essas alterações que permitem a ele se adaptar facilmente às condições adversas para ele. “A capacidade de explorar pontos de vulnerabilidade do fungo, ficou um pouco mais clara e acessível daqui para a frente.”
Contudo, pondera que os resultados não serão imediatos. “São pesquisas difíceis e demoradas e existem várias linhas a serem exploradas que podem se valer do conhecimento do mapa genético do genoma da ferrugem. São várias linhas no sentido de desenvolver cultivares resistentes, explorar melhor alguns produtos químicos ou biológicos que possam interferir de forma mais eficiente na sobrevivência do fungo.”
Essa descoberta, poderá ser explorada em várias instituições de pesquisa para desenvolver novas ferramentas ou melhorar a estabilidade das ferramentas existentes no mercado. “O desenvolvimento de ferramentas de controle, vinha sendo baseado um pouco em tentativa e erro, tateando as possibilidades, verificando a reação do fungo em relação a cada tentativa,” diz. “Agora, poderemos de uma certa forma monitorar onde e como ocorre, que genes determinam a capacidade do fungo de sobrepor um fungicida e uma resistência genética na planta,” acrescenta. “Temos uma base de conhecimento mais robusta, para que consigamos ter mais assertividade no futuro. Esses trabalhos devem ser levados adiante, mas não dá para prever o tempo para se obter essas novas ferramentas. Certamente, não será a curto prazo.”
Acesso
Esse resultado, já está disponível publicamente a qualquer instituição de pesquisa. Ela está no site do JGI – Joint Genome Institute – (https://genome.jgi.doe.gov), uma instituição americana que só trabalha com mapeamento genético de organismos, seja de plantas, animais, microrganismos.
Maurício, informou que estará disponível para download não apenas a sequência de uma amostra de ferrugem, mas de três. “Foram três grupos que trabalharam em paralelo e chegaram mais ou menos ao mesmo tempo, no resultado do mapeamento genético do genoma. Essas três equipes, se reuniram e resolveram publicar juntas os resultados.”