As propriedades rurais devem ser tratadas como unidades de negócios, com vistas ao melhor aproveitamento dos recursos naturais, à preservação destes recursos e à lucratividade. O uso de tecnologias adequadas é o caminho mais curto para sua concretização.
O cultivo de peixes (piscicultura) é uma atividade relativamente moderna no Brasil, mas que tem tomado uma importância muito grande e já é a principal atividade em várias propriedades.
A população mundial está crescendo e o consumo per capta de pescados também tem aumentado. Diante deste cenário, esta combinação cria uma demanda que é um grande desafio para os países que já produzem muito e consomem muito, mas é uma oportunidade ímpar para o país. O Brasil está entre os cinco maiores produtores de grãos do planeta e terceiro em rações; maior exportador de carnes e um dos maiores produtores de subprodutos da agroindústria do mundo. Estes subprodutos são excelentes ingredientes para produção de rações para organismos aquáticos. O território brasileiro dispõe de uma grande quantidade e qualidade de água, reservatórios para geração de energia elétrica, clima tropical na maior parte de suas áreas, grande variedade de espécies, vasto conhecimento científico sobre estas espécies de interesse para a piscicultura, entre outros.
Segundo o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) em 2011 no Brasil foram produzidas 544.490 toneladas de peixes em água doce, a Tilápia (Oreochromis niloticus) é a espécie mais produzida no país com 253.824 toneladas, sendo as regiões Sul, Sudeste e Nordeste as responsáveis pela maior produção desta espécie. Os peixes redondos, mais conhecidos como Tambaquis (Colossoma macropomus), Pacus (Piaractus mesopotamicus), Pirapitingas (Piaractus brachypomus) e seus híbridos são o segundo grupo de peixes mais cultivado no Brasil. Em 2011, a produção deste grupo chegou a 206.776 toneladas e seu cultivo está mais concentrado nas regiões Centro Oeste e Norte. Outro grupo de peixes que tem conquistado o paladar dos brasileiros é o pintado que segundo o MPA – Ministério da Pesca e Agricultura – em 2011 foram produzidas 8.824 toneladas.
Há oportunidades em todas as regiões, principalmente, onde há oferta de ingredientes para rações e clima quente, abundância de água e empreendedores.
Os peixes apresentam uma grande capacidade de ganho de peso. Basta ter um manejo adequado e dieta alimentar de qualidade, com menos de 1,5kg de ração os peixes ganham 1 kg de peso, dependendo da espécie podem atingir 2-3 kg de peso em um ano de cultivo. Aliado a isto, os peixes tem o grande potencial de produtividade, em um hectare de lâmina d’água podem ser produzidos 10.000 kg por ciclo de cultivo, com o auxilio de aeradores, que incorporam oxigênio dissolvido na água, é possível produzir até 50.000 kg por hectare. Há sistemas de produção super intensivos que podem atingir 30-40 kg de peixe nativos (redondos ou surubins) por metro cúbico de água, para tilápias é possível ultrapassar 100 kg/m3.
Tanto crescimento em tão pouco tempo depende da qualidade da água, da genética dos animais, do manejo, da sanidade e da alimentação. A alimentação pode significar até 60-65% dos custos de produção e deve prover todos os nutrientes necessários para crescimento e saúde dos peixes.
Os peixes comem, respiram e excretam na água, portanto tem uma intimidade com o ambiente muito maior que os animais terrestres, até a temperatura corporal é determinada pela temperatura da água. Os restos de ração, as excretas sólidas (fezes), líquidas (urina) e dissolvidas (excretadas pelas brânquias ou guelras: CO2, nitrogênio e fósforo, principalmente) interferem no pH, produção de plâncton (algas e pequenos animais), quantidade de oxigênio dissolvido e outros fatores que, se não controlados, podem levar à produção abaixo do esperado e até a grandes mortalidades, inviabilizando o negócio.
Por isso, é fundamental a orientação técnica desde o projeto até a condução do empreendimento. Por representar tanto nos custos, as rações devem ser as melhores possíveis. Rações de boa qualidade devem conter todos os nutrientes, ser de boa digestibilidade, isto é, bem aproveitadas pelos animais e que diminuam ao máximo as excreções que podem levar à qualidade de água de cultivo ruim, comprometendo os resultados.
Da mesma maneira que a falta de nutrientes leva às deficiências nutricionais, o excesso também pode ser prejudicial, porque há demanda de energia para digestão de nutrientes que não serão aproveitados integralmente e serão excretados, contribuindo para a deterioração da qualidade dos ambientes de cultivo.
A escolha da ração adequada à espécie, ao tamanho dos peixes, ao sistema de cultivo, aos desafios ambientais e sanitários e aos índices zootécnicos esperados é difícil e precisa ser científica, pois interfere diretamente nos resultados econômicos dos empreendimentos.
Um hectare de viveiros produzindo 10 toneladas de peixes por ano pode alcançar um faturamento de aproximadamente R$ 45.000,00, com rentabilidade interessante, dependendo do manejo, espécie cultivada e qualidade da ração usada. A piscicultura é uma grande oportunidade para o homem do campo!